4.12.07

As crianças e o Espiritismo



(fotografia de Sir Frank Brangwyn, "Study for Eden Philpotts «The Girl and the Fawn»", 1916)

"Se o homem apenas tivesse uma única existência e se, após essa existência, a sua sorte futura ficasse decidida para a eternidade, qual seria o mérito de metade da espécie humana, que morre na infância, para gozar, sem esforços, da felicidade eterna? Com que direito se consideraria isenta das condições, às vezes tão duras, a que se vê submetida a outra metade? Semelhante ordem de coisas não corresponderia à justiça de Deus. Com a reencarnação, a igualdade é para todos. O futuro pertence a todos sem excepção e sem favor para quem quer que seja. Os retardatários só se podem queixar de si próprios. O homem deve ter o mérito dos seus actos, tal como deles tem a responsabilidade.

Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vêem crianças dotadas dos piores instintos, numa idade em que a educação ainda nenhuma influência podia ter tido? Há algumas que parecem trazer do berço a astúcia, a falsidade, a perfídia, até a tendência para o roubo e para o assassínio, não obstante os bons exemplos que lhes dão de todos os lados? A lei civil absolve-as dos seus crimes porque, diz ela, agiram sem discernimento. A lei tem razão, porque, de facto, elas agem mais instinto do que intencionalmente. Mas, de onde virão instintos tão diversos em crianças da mesma idade, educadas em condições idênticas e sujeitas às mesmas influências? De onde vem a perversidade precoce, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso? As que se revelam viciosas, é porque os seus Espíritos progrediram muito pouco. Deste modo, sofrem as consequências, não pelos seus actos de criança, mas sim, pelos actos das suas existências anteriores. Assim, a lei é uma só para todos e todos são atingidos pela justiça de Deus." (1)

Allan Kardec

(1) KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos. 2ªed. Mem Martins: Livros de Vida, 2005. ISBN 972-760-108-1. p. 123.


Concordo com tudo o que Allan Kardec disse, mas considero que nos tempos que correm, a situação já não é tão linear como isso. Percebo pouco de psicologia infantil, mas acho que, muitas vezes, confunde-se perversidade com rebeldia e desejo de ser ouvida pelos adultos. Claro que sempre haverá crianças perversas, mas deve-se fazer a distinção. Ainda por cima, na era dos índigos...

Jorge Vicente

1 comentário:

Polly Jean disse...

subscrevo a conclusão. Contudo, creio existirem sinais claros do que é verdadeira perversão, na maior parte das vezes a fronteira é tão tenue, que todo o cuidado deverá ser tido.